Sao quase onze da manhã. Hoje ‘e sábado e as crianças não estão em casa. Então, indiferente a que horas da manha marca o relógio, dou inicio a um pequeno ritual: o ritual do cafe. Preparar e apreciar uma xícara de cafe ‘e como um ritual para mim, mesmo na correria do dia a dia ante de ir ao trabalho. O ritual do cafe me remete a reflexão da vida, do dia-a-dia, da existência humana, das decisões e de uma vida pratica. Tem um “que” de racionalidade. De realidade. De amargor e de dulçor. De cotidiano. Quando o realizo de forma artesanal, vejo sentido em casa ato. Separar os utensílios, esperar o ponto de aquecimento da ‘agua, preparar o filtro, planejar com cuidado e segurança a inclinação da chaleira. Então o aroma intenso, vibrante, real começa dar o tom. E vou sentindo aquele cheirinho de dia-a-dia, que pode exigir da gente mais ou menos açúcar. Talvez adoçante. Ou talvez sem nenhuma doçura. Se vamos encara-lo puro ou com leite para deixa-lo mais ameno. Gosto da forma didática de tomar um cafe, porque ele sempre me faz esperar “o ponto certo” para aprecia-lo. O cafe exige de nos um certo tempo, como algumas coisas na vida. Tempo que as vezes nem sabíamos que tinhamos. E, enquanto diminui um pouco a temperatura podemos pensar… Sim, apreciar um cafe para mim eh um momento de reflexão. Um exercício poético de racionalidade. Da mesma forma, se o preparo numa moderna cafeteira elétrica, também observo o processo e, espero… espero o ponto, a medida da agua, a pressão (bar) empregada, ate que o aroma me conduza as reflexões que se seguirão.
Semelhantemente, também tenho o meu ritual do chá. Mas este ‘e diferente. No horário, na preparação e nas sensações produzidas. Para mim, preparar um chá ‘e como receber uma amigo em casa. Tomar um chá ‘e como fazer ou receber um carinho. Me remete a infância, quando frágil e doente sentia aquele cheirinho de chá que vinha da cozinha, e depois apresentado geralmente acompanhada de dois biscoitos. O chá faz bem a crianças e idosos. O que eu mais gosto no chá ‘e a riqueza de possibilidades, de cores, aromas e sabores. O chá pode ser medicinal ou terapêutico. Parece que foi feito sempre para o bem estar de quem o toma. O ritual do chá inicia-se na busca do que queremos experimentar ou do que necessitamos. Se queremos relaxar começamos a imaginar que ervas poderíamos combinar, ou alguma erva especial que desejamos. Podemos preparar chá de ervas, de frutas, de folhas, de cascas, de galhos, de sementes…etc… O chá me traz saudade. Como o processo geralmente eh mais demorado, enquanto o preparo começo a pensar nas pessoas que amo, nos sonhos que tenho, nas boas lembranças, e nas coisas não tão boas, mas que felizmente ja passaram. Penso em entes queridos, pessoas que conheço. Gosto de compartilhar um chá e uma boa conversa.
Inicio meu dia com um cafe, para me preparar para a jornada. Para encerrar o dia, sempre que posso preparo um chá. Este, no fim da tarde, porque `a noite… ah, a noite… esta pede um terceiro ritual: o VINHO.
Confesso que nem sei como discorrer sobre esse complexo, raro e fantástico ritual devido as nuances de representatividade pra mim. As vezes pode ser longo, ou curto, de apenas uma taca. Depende do dia, do momento, do sentimento, da companhia ou da falta dela. Degustar um vinho as vezes eh feito numa atmosfera de grande complexidade e prazer. Pode se dar no âmbito da preparação de uma refeição mais elaborada, ou apenas em algum modesto acompanhamento. Pode ocorrer com uma muito agradável companhia, ou apenas na companhia de uma boa musica, e as vezes somente com a luz do abajur ao lado da poltrona. Pode ser apreciado solitariamente ao som de Chopin ou acompanhado romanticamente de algumas baladas românticas francesas ou italianas, ouvindo tango, fado, Wagner… Sei la! rsrsrs Podemos degustar um vinho envolto por uma animada conversa, ou apenas no silencio de alguma teimosa lagrima. Dependendo do dia, do sentimento e da companhia, escolhemos uvas diferentes, temperaturas diferentes e corpo diferente. Minhas preferidas são a intensa Shyraz e Pinot Noir. Um dia preferimos os brancos, noutros os rosas, noutros os tintos. Se faz frio( aqui nunca faz frio) excelente, perfeito! Se faz calor, refrigeramos. mas se o dia pede vinho, esse dia ‘e magico! Gosto de algumas frases que li por ai em algum lugar sobre os vinhos (jargões? Talvez sim. Todas. Mas isso não faz diferença pra mim): “O vinho ‘e um estado biológico entre ser suco e ser vinagre”, o que me parece algo vivo e equilibrado. Atribuem a Napoleão Bonaparte uma frase mais ou menos assim: “O vinho nas vitorias eh bem vindo, e nas derrotas, necessário”. Não sei se ele ou outro disse, mais gosto do sentido. Também ja ouvi algo como : “algumas companhias são tão boas que não precisamos de vinho, e alguns vinhos tão bons que não precisamos de companhia”… extremos, claro! Ate pela função do álcool eh natural, que, na proporção adequada (sem exagero, sempre) o vinho me traduz felicidade, amor e… espiritualidade. Sim, sim, sim. Costumo dizer que tomar um bom vinho ‘e como beijar… (outro exagero, dessa vez, de minha autoria…com licença da poesia rsrsrsr), e, que, ele nos torna mais perto de Deus. Sem muito filtro de racionalidade, depois de uma taca posso conversar mais tranquila sobre qualquer assunto. Não sei se eh porque geralmente quando paro para apreciar um vinho estou desprendida da maioria das coisas… Então, estou em preciosos momentos de tranquilidade, ou apaixona, claro! rsrsrsrs Tenho muito boas lembranças de momentos de degustação de vinho. Alguns deles de uma solidão necessária, outros de importantes celebrações e, sim, claro, alguns de muito amor e de muito carinho e cumplicidade…
Saude!