Era uma vez, um homem e uma
mulher. Eles se conheceram, descobriram suas diferenças e aproximaram suas
semelhanças. Eles sorriam juntos, choravam
juntos e, quando era briga, só um brigava. Eles ouviam
música juntos, dançavam, namoravam, e, de vez em quando
faziam algumas pequenas viagens, juntos.
Conversavam muito sobre tudo. Tudo era muito. Tomavam café juntos, almoçavam juntos,
caminhavam juntos e, até tomavam
banho juntos. E, de vez em quando,
dormiam juntos ,também. Eles assistiam
TV juntos, compravam CD pirata juntos, iam a farmácia juntos e até fazer exame em um
consultório médico, juntos. Saiam
para se divertir, comer, beber, dançar... Tudo junto! Juntos eles conversavam
sobre qualquer assunto e sempre tinha assunto para mais uma conversa quando
estavam juntos. Quando ficavam em
silencio, ficavam em silencio juntos,
geralmente ficam em silencia apenas quando estavam dormindo juntos. Juntos eles “seguraram a barra” um do outro, se fizeram companhia e
foram solidários. Eram como pão com manteiga, café com leite e arroz com feijão.
Diferentes que se completam. Juntos
eles falavam da vida, da infância, da família e das conquistas. De vez em
quando eles celebravam com vinho, juntos.
Eles juntavam tudo. E tudo que acontecia fora deles pouco importava quando
estavam juntos. O tempo parava
quando estavam juntos. Quando eles
não ficaram mais juntos eles
choraram dias. E então... O fim da história? Eles se separaram, cada um foi
cuidar de sua vida. Alguma surpresa? ELES FORAM FELIZES PARA SEMPRE, SEPARADOS, NÃO JUNTOS porque
essa é uma história REAL, NÃO UM CONTO DE FADAS.
quarta-feira, 17 de abril de 2013
terça-feira, 16 de abril de 2013
DOAÇÃO
DOAÇÃO
Querido Augusto,
Sempre me cobrastes palavras
afetuosas como prova de meu amor por ti. Não basta ofertar a ti meu riso, minha
alegria, meu viço e meus dedicados atos de cuidado. Isso sempre foi pouco. O
que mais poderia dar a ti? E o que mais poderia eu receber de ti? Senão dar a si mesmo e receber o outro de
presente. Essa é a maravilha de amar. Mas meus afetos possuem o silêncio
que minha inquieta língua não tem. Dou a ti as minhas lembranças, os meus
suspiros noturnos, meu olhar perdido e a mente vaga das manhãs sem você. Dou a
você a minha saudade, porque é tudo que tenho. Gostaria de ter esperança, mas
sei que ela não existe. Dou a ti a imagem do meu melhor vestido, o olor do meu
melhor perfume. Dedico a ti os vinhos que sirvo a mim mesma no jantar. Dou a ti
a saudade que tenho a cada luz de vela que acendo no cair da noite, as flores
que planto no meu jardim. Dou a você as músicas que ouço. No mais dou a ti a
lágrima que derramo às escondidas, dou a ti o meu silêncio e o desejo que sejas
feliz, hoje e sempre. A ti, que tanto afirmara eu não ser romântica, a ti mais
que a qualquer outro Augusto, dou o que tenho de mais íntimo e mais nobre: a
minha poesia.
Catarina.
O SAPATO APERTADO
O SAPATO APERTADO
Há alguns dias não escrevo. Quase
nenhuma postagem e nenhum texto no meu blog. É tanta coisa fluindo de dentro
para fora e tão pouco espaço para o escape que não resisti, voltei a minha “terapia
da letra”. Sim, escrever é o bálsamo para quando não há ouvidos generosos o bastante
para me ouvir. E, confesso, tenho muita falta deles. Mesmo aquelas pessoas que
tentam me demonstrar algum afeto, mesmo estas, nunca me poupam de eventualmente me dizerem
que falo muito. Eu sei que falo muito. Esse é meu pecado mortal. Devo estar
condenada a solidão eterna por isso e jamais terei meu lugar no céu, assim como
não há na terra. Não há lugar na terra para pessoas falantes como eu, de certo.
Já ensaiei “curas” para esta doença. Já fingi que não tinha nada a dizer. Sou
tão ruim para mentiras, que sempre souberam que eu tinha algo a dizer, e, que
pensava algo sobre o assunto. Eu falo muito sim, faço aqui a “mea-culpa”, meu
ato de contrição. Eu não apenas falo muito. Eu penso muito, eu perscruto muito,
eu investigo muito, eu vejo muito, eu sinto muito. Às vezes tenho a impressão
que meu “universo particular” é maior do que o externo. Que a roupa é menor que
o corpo e que o sapato está constantemente apertado. Sim, é assim que eu me sinto
na maioria das vezes. Eu penso coisas diferentes da maioria das pessoas com
quem convivo. Eu gosto de vinho, a maioria gosta de cerveja. Eu gosto de gastronomia
enquanto a maioria acha isso uma bobagem. Meu maior desencanto é tentar
preparar um bacalhau a gomes de sá, para quem acha que é frescura e calcula que
o dinheiro gasto naquele jantar poderia comer em um “rodízio de churrasco” ou
em um “rodízio de pizza”. Gosto de filmes antigos que me levam a reflexões
sobre outras épocas outros padrões que nos antecederam e que às vezes muito nos
influenciaram enquanto a maioria ao meu redor acha que estes filmes são
ultrapassados demais. Filmes bons mesmo são aqueles cheios de barulho, efeitos
especiais e beldades hollywoodianas. Eu gosto de música com boas letras, de
música clássica, de orquestra de câmara, gosto do Yanny, Andre Rieu, Sarah
Brigthman. Gosto de tudo isso, e, como uma ilha, estou rodeada por sertanejos
dançantes, leks-leks, tchu, e coisas do gênero. Eu até me divirto com a maioria
destas coisas, conheço-as, contemplo o mundo que me cerca, provo de tudo o que
é “comível”, mas é brutal pra mim o desdém às coisas que gosto, ou as conversas
interrompidas porque são “papo-cabeça” demais. Com algumas pessoas, aquelas que
possuem ouvidos quase que beatificados, eu tento me fazer entender. Na maioria
das vezes, em vão. Pois algumas delas, mesmo que com alguma polidez me
dissuadem a mudar de assunto. Tenho necessidade de pares compatíveis. Talvez
minha mente tenha acumulado coisas demais, livros demais, conceitos demais,
pesquisas demais. É o sapato apertado.
A mim, me parece que estou sempre usando um sapato apertado. Aquele que você
precisa usar diariamente, mas que nos machuca, e tudo o que queremos e chegar
em casa à noite e tirá-lo do pé. Nessa alegoria, a minha casa é a minha “caverna”,
é meu universo, e a solidão é o ouvido sagrado. O lugar onde o mundo que eu
criei é do meu tamanho ou maior. Costumo dizer que minha casa é a “Ilha da
Fantasia”, o “Castelo dos Sonhos” a fuga para dentro de mim mesma. Lá eu tenho
e leio livros, eu cozinho, na maioria das vezes para mim mesma, sem ter que
precisar implorar para que me acompanhem numa iguaria culinária. Sento á mesa
sozinha, abro um vinho e sirvo minha própria taça. Tomo meu banho e uso meu
perfume predileto. Sim, esse é o meu mundo, onde o sapato não me aperta. Onde tudo
é confortável e singelo. Assim como alguns gostam de tomar banho debaixo de
pontes em rios de águas turvas, assim como os cantantes sertanejos embalam a alma
de muitos, e que o guisado da dona coisinha é o melhor, e isso produz prazer,
da mesma forma eu tenho os meus prazeres, com pouca compreensão da maioria das
pessoas que me cercam, estou sempre calçando um sapato apertado. Tenho a
sensação de que o que eu penso da vida, das coisas, de tudo, parece
desinteressante. Tenho tentado diminuir meus compartilhamentos. Confesso que,
com muito esforço tenho tentado quase sempre nunca falar do que sei. Tenho exercitado,
fingido às vezes, não saber, nunca ter ouvido falar, para ter algumas
companhias de vez em quando. É o sapato emprestado. É usar aquilo que não é
seu. Mas também não dura muito, pois dia após dia tenho que usar o sapato
apertado do armário. O único par que tenho.
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